Cais da Língua
Das coisas que me chamaram a atenção
Muitas são talvez do coração
Além de mim
Não quero ir ao fim
De tudo isso
Só te peço uma chance no quarto
Quero novamente seu sorriso branco
Seu cabelo Crespo
Teu peito
"Jesus" tatuado no braço
Quero novamente suas coxas grossas
Sua cara de descarado
Sua carona no carro
Quero que seja meu homem
E sei que pode dar mais além de calor
Nada ficou intacto
Quero mesmo seu amor
Se é que amas alguém de verdade
Se é que sentes saudade
De outra coisa que não seja sexo
Mandar-te-ei cartas
Em anexo minha fotos
Na dedicatória um breve comentário
Deixando ressaltado
O quanto a vida é linda ao teu lado
O quanto falta de mim em mim
Sem você aqui dentro
Vamos ter um filho
Flamengo será o seu time
Gosto das cores que quase combinam com teu nome
O que me disse foi demais
Vazou
Não pude ficar quieto
Por isso o povo já sabe de nós
E que preparem uma esquina
Iremos passar
Para nosso amor vulgar
Uma dose de cachaça
Para você singular
Belas palavras
Para o orixá
Comida da boa
E é com fé nele
Que em breve você estará
Sentado no meu sofá
Conversando com mainha
Aquela mesma ladainha
O que é o louco e breve espaço de te amar
Não precisa mais me chamar a atenção
Visto que já tem
Não só o coração
Mas o corpo inteiro
A alma também
Por isso é que esnoba
Provido de tanta fartura
Vai embora
Sem nem dizer Adeus
Pedindo a Deus
Um pouco de paz
Pois ser amado
Traz confusão na cabeça
Traz arrependimento da traição
Traz aflição
E é assim que um dia
Hei de morrer de te amar
Hei de te matar de amor
Hei de me cansar
De ter tido pouco
O calor eterno dos teus braços
O sufoco amigo dos teus lábios
O prazer infinito que é estar contigo
Cais da Língua

Atrás da barba grossa

A boca macia

Combinando com o beijo

Molhado e quente

Que é pra dar desejo

Do resto

E inconseqüente

Tirar a roupa

Deixando louca

A paixão veemente

Do nosso sexo

O cheiro forte do seu membro

A quantidade do seu gozo

Melando meu rosto

Sem um pingo de nojo

Que é pra sentir na pele

Seu prazer absoluto

Seu gemido rouco

Seu peito cabeludo

Acalmando-me do mundo

Num simples toque

Profundo

E sem nexo

Cais da Língua

Galinha preta na encruzilhada

Despacho na esquina

Vem, minha menina

Ajudar esse pobre velho a macumbiar

A limpar a chacina

A Varrer a esquina

O orixá pede licença

O vento quer passar

O bozó a fazer efeito

O calo a saltar

Saravá

Meu Pai

Deixa que tudo cai

Na vida do coitado

Que ali foi jurado

Pra um dia não dar mais no couro

Quando for furar o couro

E de fome morrer

De doente sentar

Jesus tenha pena

Dos que fazem mal

E usam o nome do candomblé

Pra se apoiar

Axé

Cais da Língua
Acabei lendo as mensagens.
Definitivamente não sei explicar o que senti ou o que fingir não entender.
Mas é que eu não sei fugir de mim, e fui pra pracinha da sua cidade aturar você e seus amigos chatos.Só me restaram a pipoca microondas e o litro de licor, malditas companhias... E pensar que fui julgado como “frio”, não é do meu feitio não ser eu.

Fui meio que sem querer
Fui meio pra te ver
E chegando lá quase não vi
Aquele amor que um dia guardei
Pra dar de volta
A quem mereceu
Meu amor, você morreu.
Eu acordei pra viver
O sonho que não vivi
E quem sabe eu morra
De felicidade talvez
Porem amando
A mim
Não venha mais
Porque tanto faz
A sua presença maldita
Ou sua mensagem falsa
Querendo almoço
Fingindo ser meu troço
Foi assim que te chamava
Enquanto você conversava
Com seus futuros amores
Suas futuras fodas
Foda-se!
Eu vou sem saber o rumo
Mas é que estou sem prumo
Perto de você
E já que ha de me perder
Que eu me perca sozinho
E feliz
Sem tino
Sem braços
Que é o que mais preciso
Pois você cansou
Da vida
Da diva
Você perdeu meu bem!
O amor que estava saturado
O perdão de Deus, coitado
Um dia vai lamentar
A infeliz troca
Da felicidade
Por sexo banal
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Cais da Língua

Hoje soube algo e isso me inquietou com sofreguidão. Infelizmente descobri que a felicidade alheia depende da derrota dos outros. Sou amado e amo como resposta, mas para o resto isso dói e causa vontade de ser. Ser o que não é e assim por diante acabar. Nosso amor dura e vai durar, se acabar é porque atingiu o êxtase máximo e não pode prosseguir. Seremos amigos pra matar vontade, pra deixar saudade e sufocar o riso, aquele que damos nas conversas cheias de verdade. Relembrar a nostalgia boa, passar o tempo sem fazer nada e ficar com vontade de voltá-lo pra nunca mais acabar o amor que as vezes é passageiro. Que nossas almas se visgem, se amarrotem e criem calos, pra não soltar, pra não fugir, pra matar de amor o amor. Que o nosso coração se rompa de coisa boa, que a minha saúde seja a tua, que você viva pra contar aos filhos que um dia já amou e fez o mais espetaculoso espetáculo: o de me fazer amar outra vez!
Você deu dentes a minha alma e assim ela mesma sorriu, fazendo força pra esbagaçar o rancor. E já não me importa o que dizem, porque o que menos procuro é o que mais acho; o teu silêncio dizendo nas mãos que me ama, e nas pontas dos dedos trêmulas, a resposta pra todas as perguntas.
Como duas coisas que não se separam, estamos nós- tontos de amor no frio do inverno.


Texto antigo mas que tem um significado enorme pra mim.
Cais da Língua

Já me basta esta sensação de fim

Este suposto sossego

Essa dor no peito

Eu quero sair

Correr pro leito

Do rio

Eu quero fugir da morte

Investigar se Deus existe

E quem quiser que me julgue incrédulo

Ou ateu

Só sei que sou poeta

E definitivamente

Não nasci pra morrer

Cais da Língua


Para o Cão, Deus

Para o colchão, um corpo

Para o alvoroço, polícia

Para a vida, perdão

Para o bordão, comédia

Para o charlatão, cadeia

Para a ceia, peru

Para a velha, dentadura

Para a criança, brinquedo

Para o dedo, unha

Para o quinto dos infernos,

Você e as perguntas.


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Cais da Língua

Um jazz não me cala mais a boca

Nem uma dose de cachaça me solta à língua

Mainha disse: vai-te querido

Ainda que triste

Diz que não foi por mal

Nem que seja fatal, essa tal acusação

Diz que não é a pedra surda que rolava

Nem aquela suja, que perambulava

Diz que eu não fui te ajudar

Porque cansada estou

Da vida, das feridas

Da esquina que me faz passar

Pela força de vencer

Seja de dia ou noite

Não quero oferecer

Mandinga pra orixá

Nem comida pro ifá

Não quero me perder

Ainda que venha há morrer um dia

Saiba que fui feliz

Não triste, apesar de fria

Saiba que amei tudo como se fosse um só

Um só calo, um só peito

Meu Deus! exige-me respeito

Por não ter nascido rica

Nem por ter morrido pobre

Mas por ter nas mãos

Mas por ter na alma

Aquela enorme desgraça

De ser Tua

De ser uma

A vagar pelas ruas do Pelourinho

Negra

Apática por ser negra

Simpática

Estatelada com tanta bagunça

Tanto alvoroço

Tanta macumba num só pescoço

Dar-nos Paz, meu Pai

Um pouco mais

Pra dar tempo de tirar um cochilo

Sem que venha ser rasgada por um tiro

Ou acorde viúva ou aleijada por ter perdido

Algum de meus filhos

A parte mais interna de meu infinito

E tenha que agüentar

Sem ao menos um canto negro

O soluçar do meu chorar

A peste negra

O eclipse maldito

Aquele erudito a resmungar

Por ter nascido

E eu que hei de segurar

A triste tarefa de não mais aquecer

Aquele menino

Que um dia peguei no colo

Num simples gesto de amar

Cais da Língua

Ela esperava na esquina o próximo cliente. Na esquina mesmo lembrava-se que ser puta não iria levá-la a lugar nenhum. Nesses momentos de inquietação era quando iniciava sua conversa com Deus, com o pensamento seco dizia a Ele que no pecado era que se sentia verdadeiramente mulher. Não importava mais se disputava homens com travestis, queria era sentir um homem independente da posição, da profissão e da religiosidade. Queria senti-los por todos os buracos, por todas as almas, por Deus! Queria senti-los...



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Cais da Língua

Ainda que triste sinto com frieza o vento passear por meu rosto. Consigo foi minha esperança e contigo veio minha tão merecida calma. Ainda dói ver o que em mim já é passado, ainda pula no meu peito aquele resto seu e vai continuar pulando até que você venha e o pare. Daqui a poucos dias será um novo ano, mas quase tudo em mim continua velho. Quem dera ter com força aquela antiga esperança, quem dera ter com força sua presença. Logo a mim que sempre fui tão sereno, o destino inventou de me testar. Logo eu que sempre senti ao máximo a diferença. Ta tudo passando e misturando, agora não sei mais quem passou e quem é pedra. A boca que tanto supliquei e a que me suplica são uma coisa só. Como pode meu Deus fazer isso? A culpa disso tudo não é minha, não sou réu e meu chão não é céu. Tudo queimando em mim.E cansado de mim registro tudo pra um dia ver que vivi, que toquei a vida sem luvas, sem capas e vi a morte sentar-se ao meu lado pedindo um pouco de paz.


ps. nem sabia da existência desse texto. :p

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Cais da Língua

Antes que me permita
Antes que mal digas a hora prevista
Deixe-me ver por outros olhos
Por outros meios
O gosto de um pouco mais de vida, querida

Sendo inevitável sua visita
Vista-me
Não quero feridas

Nem quero saudades
Na verdade eu nem te quero

Mas já que é insistente e muito certa
Leve-me com cautela
Seja lá pra onde for
Já que o caso é levar
Já que o caso é partir
Que me partam os raios
Lua
Cais da Língua

Não quero ser pra você uma fase como dessas da lua. Quero ser sua ferida aberta. Deixar cicatriz e de preferência nunca cicatrizar, não para causar dor, mas sim prazer, que por Deus, só vivendo pra sentir.
Te fiz chorar hoje, perdão. Atrás de minha palavra rouca e firme é que está toda a doçura que só você consegue ter e ser.

Formou-se sobre todas as águas, todos os tempos a sombra da suprema felicidade. É como se eu estivesse puro, no tal estado agudo de felicidade. Se inventarem amor maior que o seu é porque não existirá mais amor. E é de amor que você vai morrer, de mãos dadas a mim, a Deus e aos filhos que nunca poderei te dar.

Era pra ser daquele jeito, da vulgaridade nasceu isso, e feliz daquele que tiver um amor vulgar e cru.

O amor começando da própria raiz é singularmente vulgar. Vulgar mesmo é quem nunca amou e se embrutece com isso.

Eu estou feliz e irei amar mais do que posso, pra aproveitar ao talo o prazer. Andar por todas as montanhas e do bem alto cair, pra na queda encontrar o ápice de tudo, o começo de tudo, sem qualquer lógica e esquecimento.

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Cais da Língua

Sem nexo e nada anexo
Parti para cidadezinha

Mão atadas
Olhos vedados
Água salgada
Circo armado

A rosa branca beirava o mar
Nossa transa beirava o mar
As oferendas beiravam o mar
Já o mar nada beirava

Parado fiquei entre mim e você
Entre a misericórdia e a solidão
Entre nós e o não existirmos
Assim pude ficar
Não mais que caído
No seu peito maciço
No seu corpo dourado
No seu braço flechado
Apenas meu rosto parado
Debruçado
Recortado
Nem por tesouras nem por quadrados
Nem por marujos nem por soldados

E Deus riu

O menino acendeu o cigarro
E perguntou aquilo
Respondi quase calado:
-Quantos amigos?
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