Cais da Língua

No quarto pequeno
A orgia de dois
A nostalgia feroz
As unhas nas minhas costas
As pernas postas
Os gritos quase abafados
Meu corpo posicionado
Na cômodo desforrado pelo acaso
Pelo destino
Abstrato
Fazendo da vida
Surpresa
Fazendo da vizinha
Testemunha
Fazendo da calunia
Fato
Todos os sentidos aguçados
E nos cabelos por você esticados
A dor transformada em prazer
Como eu queria ser
Aquele retrato na parede
Pra te ver todos os dias
E em maresia
Tonto do que via
Agradecer a Deus
O milagre que é
O corpo teu
Rir do que houvera
Como se fosse primavera
O calor do verão
Como se fosse chama
Posto que é vela
A sedução
Com a qual me ganhara
Na cama suada
Maltratada pelo nosso movimento
Seu membro atento
Aos meus sinais
Seus pêlos contra os meus
Eram rivais
Seu gemido avisando
Final da guerra
Os corpos agora pediam paz
E crucificar mais tarde
O abandono dos teus lábios
A saudade que me consome o tato
O olfato
Os sentidos
Os gritos
Aflito jogo os dados
E aposto na vida
Uma chance talvez
Um pouco de solidez
Nas palavras escritas
Nas rimas
Pra contrastar com a fraqueza
Que você me trás
Pra encarar sua beleza...
Eu quero mais!