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Lua
Cais da Língua

Não quero ser pra você uma fase como dessas da lua. Quero ser sua ferida aberta. Deixar cicatriz e de preferência nunca cicatrizar, não para causar dor, mas sim prazer, que por Deus, só vivendo pra sentir.
Te fiz chorar hoje, perdão. Atrás de minha palavra rouca e firme é que está toda a doçura que só você consegue ter e ser.

Formou-se sobre todas as águas, todos os tempos a sombra da suprema felicidade. É como se eu estivesse puro, no tal estado agudo de felicidade. Se inventarem amor maior que o seu é porque não existirá mais amor. E é de amor que você vai morrer, de mãos dadas a mim, a Deus e aos filhos que nunca poderei te dar.

Era pra ser daquele jeito, da vulgaridade nasceu isso, e feliz daquele que tiver um amor vulgar e cru.

O amor começando da própria raiz é singularmente vulgar. Vulgar mesmo é quem nunca amou e se embrutece com isso.

Eu estou feliz e irei amar mais do que posso, pra aproveitar ao talo o prazer. Andar por todas as montanhas e do bem alto cair, pra na queda encontrar o ápice de tudo, o começo de tudo, sem qualquer lógica e esquecimento.

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Cais da Língua

Sem nexo e nada anexo
Parti para cidadezinha

Mão atadas
Olhos vedados
Água salgada
Circo armado

A rosa branca beirava o mar
Nossa transa beirava o mar
As oferendas beiravam o mar
Já o mar nada beirava

Parado fiquei entre mim e você
Entre a misericórdia e a solidão
Entre nós e o não existirmos
Assim pude ficar
Não mais que caído
No seu peito maciço
No seu corpo dourado
No seu braço flechado
Apenas meu rosto parado
Debruçado
Recortado
Nem por tesouras nem por quadrados
Nem por marujos nem por soldados

E Deus riu

O menino acendeu o cigarro
E perguntou aquilo
Respondi quase calado:
-Quantos amigos?
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